É algo tão pesado que faz força contra meus olhos. Minhas pálpebras reagem com a força contraria tentando conter a imensa vazão que esta por vir. Não agüenta e se rompe. Assim, um rio vem abaixo sendo puxado pela força da gravidade e absorvido pela áspera superfície que por ali desce. Diminui seu volume, aumenta o seu sal, chegando uma gota bem salgada próxima a onde eu consiga sentir seu gosto, é tarde demais. Minhas emoções já foram escorridas por aquela lágrima que eu tanto segurei e não consegui.
O que está havendo comigo esses dias? Por qual motivo, qual razão, eu me sinto tão sozinho e tão abandonado? Eu sempre me virei muito bem sozinho e não sei qual a razão disso. Será que foi minha mente que me abandonou? O que mais eu perdi? Será que um dia eu possui pra poder falar que perdi? Ou apenas, foi somente a ilusão de posse, porque sempre esteve longe fora do alcance de minhas mãos.
O tempo passa, a agonia aumenta, o passado remete, razão vira soberana, sentimento se esconde, raiva fica à frente, auto culpa se intromete, pensamentos são jogados, cérebro não suporta, o físico não agüenta mais. O verde dos olhos divide espaço não mais com o branco, e sim com o vermelho, extremo vermelho que parece querer expulsar algo do interior e assim volta a escorrer.
Quantas vezes em dias chorei, lágrimas de solidão, derramei. Pensei em desistir e não prosseguir parar mas….
O sofrimento é uma escola. Escola árdua que ninguém gosta de passar. Não entendo. Não sei o que falo, não sei o que penso e muito menos o que vou continuar escrevendo…
E de repente, você se perde no mundo que estava convicto de estar bem estruturado faltando apenas um detalhe. Você se vê na situação impotente e sem ação "O meu Deus, o que se passa agora?" Quem pode te explicar o que acontece não explica, quem não sabe da historia se aproxima, seus amigos se afastam e os próximos abrem mão. Eu não consigo respirar, minhas costas estão quebradas e minha garganta está entalada com o choro que tentei engolir e agora ele tenta sair 2 vezes mais forte do que na primeira vez.
Se encaminha aquela senhora, com um sobre tudo preto e um capuz grande cobrindo o seu rosto, na mão esquerda ela carrega uma foice muito brilhante, andando calmamente em minha direção. Chegando próximo a mim, se vira, encosta seu objeto num arvore, olha para baixo, ergue um pouco aquele sobre tudo imenso e senta se ao meu lado, num banco fora de um parque. Aquela amigável senhora começa a conversar comigo e então o assunto ganha forma, conteúdo, vários caminhos e de repente uma pergunta partindo dela: –Não gostaria de andar comigo por este parque? –. Então eu respondo que sim e saímos andando em direção aquele parque. Coisa linda que era. Eu já conhecia aquele parque de algum outro lugar com suas folhas amareladas fazendo lembrar do outono. Eu espero por algo, alguém que iria passar por ali, alguém que eu queria que voltasse. Mas não voltou. Fiquei triste por isso, fiquei arrasado. Minha espera foi em vão e ela não veio, o que fazer agora? Com a cabeça abaixada, sinto uma mão encostando sobre meu ombro direito e dizendo bem calmamente –Espere, pode não significar o que parece. Pode ter ocorrido um atraso, um contratempo impedindo o que você espera de chegar logo. –. Eu então levanto minha cabeça e digo –Sim, pode ser verdade mas enquanto isso, só penso que ela não quis vir, seja quem for. –. A senhora olha para mim e diz –Meu jovem, você ficará bem aqui. Preciso partir, preciso fazer uma viagem com outras pessoas e você ainda não precisa desta viagem, mas um dia voltarei para te buscar e te fazer o convite dessa viagem e ver se assim aceita. Se cuide! –.
Continuo no parque e tudo começa a ficar cinzento e escurecer. Eu de repente estou olhando para o teto de um quarto, levanto e vou olhar as horas e saber se tem algum recado para mim. Não tem nada. Tenho que sair e encarar a distancia imposta e continuar dessa forma aterrorizante. E vai voltando a vontade e o bloqueio na garganta e o ciclo se repete…